BLOOD MARY É RESPONSÁVEL POR UM DOS BLOGS MAIS CRIATIVOS QUE CONHEÇO: O ESTRANHO MUNDO DE MARY PRODUZIDO EM CONJUNTO COM O GRANDE AMIGO HELLRAISER. ESSA ENTREVISTA MOSTRA SUA FACE POLITIZADA, SEUS PRIMEIROS CONTATOS COM O ROCK E UM POUCO DE SUA TRAJETÓRIA NO MUNDO DO BLOG.
1. Inicialmente gostaria de deixar registrada minha admiração pelo blog estranho mundo de mary e que é um prazer poder entrevistar mais um de seus integrantes, uma vez que já conversamos com o Hellraiser. A primeira pergunta é a de sempre: quem é Bloody Mary? Uma das coisas mais difíceis que existem é definir alguém. Sou uma pessoa normal que teve a sorte de ter nascido numa família que sempre ouviu música. Isso formou uma grande parte do que eu sou hoje. Fora isso trabalho como Relações Públicas, faço cursos de aperfeiçoamento profissional, namoro e me divirto saindo com amigos.
2. O nome Estranho Mundo de Mary parece saído de uma ficção científica. Afinal, qual é a influência para o nome?Na verdade o "Mary" do Estranho Mundo é uma abreviação para "Mariana", que é meu nome de verdade. Existe uma animação, do genial Tim Burton, que se chama "Estranho Mundo de Jack" e que também me influenciou na escolha. Somado a isso tem sempre a reação dos meus amigos quando eu dizia que estava ouvindo isso ou aquilo e eles comentavam: "nossa, que estranho!" huauhauaha.
3. Você começou a curtir nos anos 90 ( quando eu já estava me aposentando rsrsrsr). Como foi seu primeiro contato com o rock? Quem lhe abriu as portas para esse maravilhoso mundo? Como disse antes eu tive a sorte de nascer numa família que já ouvia música. Meu pai adora Creedence Clearwater Revival e Rolling Stones (os primeiros) e tinha muitos discos deles em casa e ouvia-os sempre que dava tempo. Meu primeiro contato foi, sem dúvida com esses nomes. Tinha também o meu irmão que ouvia de punk a heavy metal, mas ele não me deixava nem chegar perto dos discos dele huauauaaahu.
4. Temos informações que você foi ao Hollywood Rock de 1993. Se não estou enganado nesse evento tocaram Nirvana, L-7 e Red Hot (me corrija se eu estiver enganado). Como foi essa experiência? Qual foi o momento mais marcante do show? foi o melhor: eu era fã e tinha os discos então estava empolgadíssima! Layne Staley e Jerr y CanCara, foi fantástico! Eu me lembro de ter feito uma campanha pra que meus pais me deixasse ir com uns amigos, mas eles estavam irredutíveis afinal eu tinha uns 12/13 anos. Pressionei tanto que eles cederam desde que fossem comigo huahuahua. Nem liguei. Todo mundo estava lá pra ver o Nirvana, que é o maior nome do Grunge até hoje, mas o Cobain estava tão chapado que fez uma péssima apresentação, infelizmente. As garotas do L7 me assustaram um pouco com a performance punk: cuspiam, xingavam, simulavam briga e até mostraram os peitos huahuahaauha. O RHCP eu não conhecia muito bem, mas o show deles foi divertido de assistir. O Alice in Chains trell não decepcionaram: show perfeito!
5. Muitos acreditavam que o Nirvana iria salvar o rock. Você não acha que essa de salvar o rock é uma jogada da mídia? Afinal, por que salvar algo que está acima de julgamentos de bem ou mal? "Salvar o rock" deve ser no sentido de gerar vendas, só pode ser isso. Deve ser uma expressão pessimamente empregada e só pode ter surgido da mente capitalista de algum empresário huahuahuaa. Não acredito que o Nirvana pensasse assim. Aliás, acho que quando Cobain constatou que o que eles "eram" estava virando "produto" foi aí que ele pirou de vez. O rock não precisa ser "salvo" por ninguém e nem vai "morrer".
6. Percebemos por suas postagens que você é uma pessoa bem aberta em relação às tendências do rock. Mas todos temos um estilo preferido. Qual é o seu? Dentro desse estilo quais são os principais representantes? Como comecei a me interessar por rock nos anos 90 minha relação com o rock alternativo e com o grunge é muito forte. Minhas bandas favoritas nesses estilos ainda são Alice in Chains e Jane´s Addiction
7. Algo que me chama a atenção no ESTRANHO MUNDO DE MARY é o elevado grau de politização. Como você analisa politicamente a Bloody Mary? Você participa de alguma ONG? Também herdei isso de meus pais. Tanto meu pai quanto minha mãe participaram de vários momentos politicamente importantes como a campanha das "Diretas Já!", que culminou com o comício na Praça da Sé, e a eleição de 89. Em casa sempre se conversou sobre política, nunca de forma invasiva, tipo "senta aí e vamos falar sobre isso", mas de uma forma quase subliminar, assistindo aos noticiários, lendo jornais e comentando as notícias, os interesse por trás daquilo. Isso foi importante pra mim.Participei de alguns projetos interessantes quando estava na universidade - inclusive um em que recebíamos doações de discos e livros e entregávamos? ?Para as crianças de uma entidade que ficavam fascinadas. Hoje, infelizmente, esse projeto não existe mais.
8. Recentemente vi uma campanha contra o desperdício de energia elétrica. Como você analisa essas campanhas de conscientização? Você crê que elas podem de fato transformar a realidade? Acho fundamental que as pessoas se expressem. A maioria de nós está descontente com as coisas como estão, mas só isso não basta. Temos que demonstrar nossa insatisfação. Temos que mostrar outras possibilidades para mudar o que nos incomoda. E temos que mostrar que estamos dispostos a contribuir para estabelecer essa mudança. A campanha da "Hora da Terra" não é nada se comparada com o desgaste que causamos ao mundo, mas serviu pra mostrar que não sou só eu e você que estamos preocupados com isso. Muitos estão. E tem mais: quem apagou as luzes no dia da campanha, agora, tem a responsabilidade de agir conscientemente com seu consumo - ou poderá ser cobrado pelo seu vizinho huahuahuaua.
9. Radiohead é uma banda muito politizada e recentemente você teve a oportunidade de assistir a um show dessa grande banda. Poderia nos fazer uma breve análise do que foi o show?O Radiohead é um caso à parte. Em minha opinião não se trata mais de uma banda de rock: são artistas, no sentido mais profundo da palavra. O show foi fantástico: mais de duas horas de duração, músicas de todos os álbuns, letras sobre a vida e músicas inclassificáveis - as famosas "paisagens musicais" do grupo. Thom Yorke interagiu pouco com o público - o que reforça a importância da música pro grupo: eles "ganharam a audiência" só com o talento musical, sem precisar ficar balbuciando frases decoradas com sotaque ou agir artificialmente. Foi incrível.
10. Você postou há dias atrás uma homenagem aos beats. O que esse movimento significa para você? Como você analisa o poema UIVO? Os Beats representam uma das faces mais interessantes da contracultura mundial. Um grupo de intelectuais que não se permitia ficar estagnado sob seus valores, suas opiniões. Queriam estar em movimento, queriam desafios, nem que pras isso tivessem que perder tudo, todos os dias, por toda a vida. Kerouac, Ginsberg, Burroughs, só fui compreendê-los depois de duas ou mais leituras, mas valeu - e muito - o esforço. O "Uivo", de Ginsberg, é sobre pertencer e sobre perda. Todo a Cultura Beat é sobre pertencer e perder. Sempre em movimento. É o que somos.
11. Ainda sobre os beats, me recordo de um pensamento de Allen Ginsberg que fala sobre as melhores mentes de sua geração sendo devoradas. Ele faz uma critica a sociedade capitalista. Você acredita que algum dia iremos superar as mazelas geradas por esse sistema? O mundo não é capitalista. NÓS somos capitalistas e por isso o mundo está assim. Só vamos superar isso quando NÓS formos capazes de reconhecer que erramos e que precisamos mudar. Sou otimista e acredito que um dia enxergaremos isso.
12. A contracultura está presente em sua formação? É difícil falar em contracultura nos dias de hoje. Toda forma espontânea de expressão logo é cooptada pelo sistema que passa a controlar, manipular, distorcer até extinguir qualquer sopro de espontaneidade das coisas. Veja o caso do Nirvana - só pra citar um exemplo já mencionado. É claro que eu tenho em mim uma vontade de ruptura: não quero os valores de hoje; não quero as relações de hoje; não quero. Mas é muito confortável dizer isso sentada numa poltrona e escrevendo num computador. Mas isso não me faz sentir mal porque tudo o que eu procuro fazer tem como propósito mostrar que eu quero ser diferente, mesmo que muitos digam "nossa, que estranho!" huahuahuaha
13. Nos anos 60 o lema era SEXO, DROGAS E ROCK´N´ROLL. E hoje? Os jovens em sua opinião têm algum lema que represente os novos tempos? A hipocrisia e a severidade exagerada fizeram aquela geração se levantar e lutar por sexo, drogas e rock´n´roll como uma forma de libertação. Hoje parece que vivemos uma realidade diametralmente oposta: olhem os números de crianças abandonadas e maltratadas; olhem a violência gerada pelas drogas - principalmente contra os pobres, como sempre; e olhe a "indústria musical" que, para manter seus privilégios, usa personalidades do rock pra processar e prender fãs por baixarem músicas da Internet. Talvez tenhamos passado do 0 ao 100 e agora não sabemos o que fazer. Acho que o lema ideal pros nossos dias seria "precisamos disso?". Quantas coisas temos e não precisamos? Quantas pessoas precisam e não têm?Lamentavelmente o que eu mais ouço é "eu primeiro".
14. Das bandas atuais qual você considera que poderá daqui há alguns anos ser lembrada como um clássico? Não sei se no futuro enxergarão o Radiohead como uma banda de rock, mas com certeza serão lembrados e reconhecidos.
15. Gostaria que você escolhesse um disco para ser postado com essa reportagem e fizesse uma resenha sobre ele. Não abusando mande o link rsrsrsrs. "Sucking the 70's" - http://www.sendspace.com/file/7hmr2xUma coletânea que vai mostrar aos mais jovens quem foram as inspirações pro modernoso Stoner Rock, e pros mais experientes que ainda existe rock dos bons sendo feito hoje em dia. Divirtam-se com as guitarras supersaturadas e cheias de riffs de bandas como Dixie Witch, Halfwayt to Gone, Alabama Thunderpussy, Fireball Ministry e Spirit Caravan, tocando clássicos de Mountain, Lynyrd Skynyrd, Stooges, AC/DC, ZZ Top, Ted Nugent, T Rex e outros.
16. Voltando ao ESTRANHO MUNDO, como você analisa o público fiel ao Blog? O "Estranho Mundo" é um blog recente, não tem nem um ano, mas recebe visitas suficientes pra nos deixar orgulhosos. A maioria só é percebida quando passa na "roleta" do contador e no "dedo-duro" (Live Traffic Feed), não diz oi nem tchau, mas tudo bem. Quem se manifesta, via de regra, são os amigos. Esses, nem que seja um "oi" no chatzinho, sempre marcam presença. Em geral quem nos visita tem interesse em Rock Alternativo, Grunge e Stoner Rock - a gente percebe isso pelos pedidos. Mas sempre que dá a gente solta uma coisa diferente pra "arejar as mentes dos Estranhos visitantes" huahuahuahua.
17. Você tem freqüentado os blogs da EQUIPE ATITUDE, como você analisa nosso trabalho? É fantástico, embora eu não imagine como você consegue tempo pra cuidar de tudo! Huuahuahauh Os materiais compartilhados são tão bem escolhidos que chegam a ser surpreendentes! Eu mesma baixei o Hermeto Pascoal - Slave Mass (1976) e fiquei pensando "nossa, que estranho!" huauauahauha.Brincadeiras à parte, outro mérito dos seus projetos é apresentar quem f az os blogs. Isso é fantástico mesmo! Adoro ler as entrevistas, quem são o que pensam. Acho que isso faltava no universo dos blogs - agora não falta mais!
18. Recentemente eu, o Hellraiser e o Humberto do Ceará Punk travamos um produtivo debate sobre o respeito às bandas nacionais em relação às postagens e a diferença entre cultura livre e pirataria. Como você analisa essa questão? Acho que ainda há muitas pessoas que não vêem os blogs como divulgadores e fomentadores das cenas culturais. Infelizmente, ainda há muitos artistas que pensam assim também e chegam ao ridículo de processar - e até prender - os próprios fãs. Os artistas deveriam ser os primeiros a defender os blogs, pois eles podem, muito em breve, representar o fim da relação escravocrata entre "gravadoras x artistas".
19. Indique em sua opinião, quais são os cinco discos mais influentes do rock e monte uma banda com integrantes de seu sonho. Se eu citasse "Elvis Presley", o primeiro do Elvis Presley, "Revolver", do Beatles, "Exile on Main St.", dos Stones, "Black Sabbath", do Black Sabbath, e "Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols", do Sex Pistols, seria só mais uma a dizer o óbvio. Por isso, vou arriscar: "Rock, Rock, Rock", primeiro do Chuck Berry, cheio de guitarras e músicas com duplo sentido. "Kick Out the Jams", do MC5, e "The Stooges", dos Stooges, os pais do barulho e da atitude punk. Qualquer um dos seis primeiros álbuns do "Black Sabbath", do Black Sabbath (esses dispensam comentários). E "Nevermind", do Nirvana, por tudo o que ele representou pra minha geração. Minha banda ideal teria Tony Iommi e Tom Morelo (do Rage Against the Machine) nas guitarras, John "Bonzo" Bonhan e Keith Moon, na bateria (sim, dois bateristas, por que não?), Lemmy Kilmister, no baixo, e Peter Steele, do Type O´ Negative (que estranho, não?! huahauuaahu)
20. Para finalizar, responda: DEUS SALVA E O ROCK ALIVIA? Fique livre para tratar de assuntos que julgar importantes e deixe uma mensagem para nossos leitores. Se Deus salva, eu não sei, mas que o rock alivia isso é certo! Só não pode nos entorpecer a ponto de nos deixar imóveis e letárgicos frente ao que nos incomoda.Gostaria de agradecer a oportunidade de falar esse monte de coisas e de parabenizar o Paulão por todas as iniciativas que, através da Equipe Atitude, ele faz chegar ao universo alternativo dos blogs. Aos blogueiros e parceiros: keep rockin´ - atitude e iniciativa sempre. Aos visitantes e curiosos: mantenham-se em movimento, sempre e em todos os sentidos e direções. Obrigada e visitem o "Estranho Mundo de Mary"!Até mais.
A EQUIPE ATITUDE FANZINE AGRADECE POR ESSA ENTREVISTA E SUA ATUAÇÃO EM FAVOR DA DEFESA DE UMA SOCIEDADE QUE SUPERE AS MAZELAS GERADAS PELO CAPITALISMO. CONTINUE COM SEU TRABALHO NO ESTRANHO MUNDO ATIVO E APAREÇA!
PAULÃO
Saudações, Paulão.
ResponderExcluirUma hora dessas nossa entrevistada deve estar dormindo mas amanhã, quando ela se deparar com essa postagem, quero que ela leia meu depoimento sobre a "Estranha Mary": era uma vez uma garota estranha, que nasceu numa família estranha, numa cidade mais estranha ainda. Antes de dizer "papai" ou "mamãe" a pqna Mary gritou "yeaah!" e jogou-se da linda cadeirinha de bebê rosa direto pro meio dos discos de "roquemrou". Desde então ela se torna mais estranha a cada dia, ouvindo e lendo coisas mais estranhas a cada dia, pensando e fazendo coisas estranhíssimas, dia após dia, até quando ela resolver que é hora de partir e ir incomodar noutras bandas - afinal, "o inferno não é um mau lugar", certo?
Mary, parabéns pela entrevista e principalmente pela pessoa que você é. Ah, e pelo convite pra que eu pudesse ser "Estranho" também ;) Beijos e "yeaaaahh!" pra você.