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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O FENÔMENO TIRIRICA

Postado por Daniel Menezes Em 7 - 10 - 2010
É impressionante como a cegueira gerada pelo senso-comum e pelo racismo de classe dos “super dotados” contra os pobres dificulta o desenvolvimento de uma análise mais reflexiva sobre os acontecimentos eleitorais. Quando mobiliza-se categorias irrefletidas para pensar os fatos sociais, a simplificação e a substancialização acabam escondendo uma realidade que, de acordo com Karl Marx, é síntese de múltiplas determinações.
O caso, neste sentido, da vitória do humorista (não o chamarei de palhaço. Já basta todo o preconceito mobilizado pelo fato dele não ser supostamente alfabetizado. Até parece que foram os analfabetos e não os “notáveis” que produziram grande parte do que há de negativo no Brasil) Tiririca é extremamente emblemática. Tem muita gente estupefata com o êxito que o referido candidato conseguiu obter. Imaginam viver num contexto de irracionalidade coletiva.
Porém, se quisermos empreender uma análise um pouquinho mais abrangente do ocorrido, esta busca por uma explicação não poderá ser construída pela via da lamentação, até porque todo e qualquer cidadão tem a legitimidade de votar e ser votado. É desta maneira que funciona – e ainda bem que é assim – uma boa democracia. Ao invés de vomitar pré-noções rasteiras, é importante tentar compreender as razões da vitória do Tiririca e apreender o recado emitido pelas urnas.
Vale à pena, nesta perspectiva, lembrar de outro fenômeno – o candidato a prefeito de Natal maciçamente votado em 2004 – se não me falhe a memória – Miguel Mossoró. Assim como o candidato, que se destacou por dizer que ia dar uma mãozada nos gringos, abocanhou os votos dos jovens – muitos deles universitários, diga-se de passagem – desgostosos com os rumos que a política vinha tomando naquele momento, os paulistas parecem não sentir efetivamente a presença do Estado e, mais especificamente, do poder legislativo.
Um dos slogans do Tiririca, ao meu ver, é significativamente lapidar. Diz ele: “você sabe o que um deputado faz na câmara? Eu também não, mas se você me colocar lá eu vou te dizer”.
Poxa!, há um forte conteúdo crítico em tal tipo de brincadeira. O legislativo, que já é fortemente rebaixado pelos desmandos do executivo e é constantemente usurpado em seu poder de gerar leis pelo judiciário, ainda fica a mercê do próprio distanciamento dos problemas sociais que ele, em tese, poderia ajudar a enfrentar.
Tratar os eleitores como brincalhões, sem cultura política e/ou como burros é não perceber as condições sociais e políticas que tornam possível a emergência do fenômeno Tiririca. É não tentar entender o recado das urnas. Significa varrer para debaixo do tapete o aparato institucional (ou a ausência dele) que promove o esgotamento da crença nas possibilidades que o a democracia pode trazer.

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