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RADIO A FERRO E FOGO

sexta-feira, 5 de junho de 2009

ENTREVISTA DE LUIS CARLOS MACIEL, UM DOS GRANDES ESPECIALISTAS EM CONTRACULTURA CONCEDIDA A LIVIO OLIVEIRA


Entrevista com Luiz Carlos Maciel


L.O: Até que ponto o Pasquim ainda perdura como símbolo de rebeldia e de busca de transformações? Há como considerá-lo como um parâmetro ainda para a contemporaneidade? Há algo que se assemelhe, nos efeitos sociais, culturais e políticos, nos dias atuais? O Pasquim é um jornal "que não terminou"?


L.C.M: O Pasquim é um fenômeno histórico, uma expressão de sua época. Por isso tem servido para assunto de teses universitárias e muitos livros. Não é parâmetro para nada, nada dos dias atuais se assemelha a ele, em quaisquer efeitos e, finalmente, não é um jornal que não terminou.


L.O: Os anos sessenta e a contracultura nos trouxeram ensinamentos válidos?


L.C.M: Trouxeram para mim, sem dúvida. Quanto aos outros, não sei. Depende de cada um. Alguns aprendem com o que vivem, outros não. A maioria aparentemente não aprende nada. Eu pessoalmente te garanto que aprendi muito e, portanto, declaro solenemente que os anos sessenta e a contracultura nos trouxeram ensinamentos pra lá de válidos!


L.O: O jornalismo, a literatura e a poesia tem algo novo a mostrar? E a MPB?


L.C.M: Sempre tem. Às vezes não é da mesma qualidade do que foi mostrado antes ou do que será mostrado depois. Cada momento tem seus valores, suas glórias, suas limitações, seus horrores, etc. Pessoalmente, não acho que o que está se fazendo hoje seja particularmente interessante. Mas também pode ser porque estou ficando cada vez mais velho.


L.O: Que caminhos a internet pode oferecer à cultura? Existeuma "literatura eletrônica"?


L.C.M: Acho que muitos caminhos, a internet é um veículo com um alcance que não podia ser imaginado há algum tempo atrás. Esse espaço pode criar coisas até imprevisíveis, quanto mais apenas uma literatura eletrônica, isso é o mínimo...


L.O: O jornal impresso manterá mercado nos dias que chegam?


L.C.M: Claro. Inventa-se muita coisa no mundo mas nada que substitua nada. As novidades apenas se acrescentam ao que já existia. O mundo é uma acumulação incessante. Os jornais continuarão, talvez vendam menos mas continuarão.


L.O: A televisão cumpre um papel imprescindível? Como você tem visto a "espetacularização" da mídia, com casos (por exemplo) como o da menina Isabella?


L.C.M.: O papel da televisão não é imprescindível, nada é. A tal espetacularização da midia é mais uma manifestação da alienação sutil mas crescente, avassaladora, que domina nossa sociedade.


L.O: O humor é essencial à nossa sociedade? Qual o seu espaço? Qual o seu valor?


L.C.M: O humor é essencial para cada um de nós, a vida não tem graça sem humor.


L.O: O governo Lula preserva os valores da esquerda? Cumpre,minimamente, os sonhos propagados nos anos 60?


L.C.M: Se Lula fizesse força pra preservar os valores de esquerda e cumprir os sonhos propagados nos anos 60, já teria sido seriamente desestabilizado e certamente derrubado. Mas não fez nada disso, fez política clássica, atividade para qual tem um talento excepcional. Costurou acordos com todos os setores da sociedade, a começar pelos mais ricos, mas sem esquecer os mais pobres, e aí estão os resultados. A economia prospera, as pesquisas dão a ele alta avaliação popular, está mais forte do que nunca. A oposição foi reduzida à impotência, embora descubra um escândalo por semana.


L.O: Que papel a universidade tem ou terá na construção dasinteligências brasileiras? Como você vê a classe estudantil atual na sua interação com a sociedade e com os atores políticos?


L.C.M: Não vejo maiores diferenças entre o que acontecia em outros tempos e o que acontece hoje. A universidade cumpre seu papel, a classe estudantil faz o que tem vontade. Acho que a universidade está mais aberta e a classe estudantil mais fechada. Ironias da vida...


L.O: Sob que ângulos de visão se encontra a atividade política atualmente? A atividade político-partidária merece algum respeito?


L.C.M: Política partidária é pura fofoca, sempre foi.


L.O: Led Zeppelin ou Chico Buarque? Janis Joplin ou Tom Jobim? Ambos?


L.C.M: Ambos e muitos outros.


L.O: O que há de novo sob o sol, fora do eixo Rio-São Paulo?L.C.M: Nada, nem no eixo Rio-São Paulo.

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