Imagine uma imagem de uma garotinha que acabou de adentrar a puberdade. Imagine ela nua, segurando um objeto fálico prateado. Ficou constrangido? Sim, eu também. Agora imagine essa imagem sendo divulgada como capa do primeiro e único disco de uma super banda, há exatos 40 anos atrás.
Os incríveis fatos relacionados a esta genial capa começam nas lentes do fotógrafo norte-americano Bob Seidemann, que desiludido com a guerra do Vietnã, se mandou para Londres, onde fez amizade com Eric Clapton. O guitarrista encomendou uma capa para um álbum de seu novo projeto ao lado do vocalista do Traffic, Steve Winwood.
Seidemann, embalado em pleno alvorecer da era espacial (o álbum foi lançado na mesma época em que o homem pisou na Lua), teve a idéia de criar uma foto em volta a um avião futurista prateado, que foi criado por um joalheiro irlandês da Royal College of Art.
Para completar a idéia revolucionária e ousada do fotógrafo, Seidemann comentou com Clapton que precisaria de uma garota virgem para manusear tal aeronave, só que naquela altura do campeonato, com a revolução sexual a pino, a dupla não conhecia nenhuma moça virgem. Um belo dia Seidemann estava no metrô quando avistou uma garota linda trajando um uniforme colegial. O fotógrafo se aproximou e deixou seu cartão com a garota, pedindo para que ela entrasse em contato com ele o mais breve possível, pois queria fazer uma sessão de fotos para “um grande astro do rock”. A garota gostou da idéia e marcou um jantar para apresentar Seidemann a seus pais, que eram amigos do poeta Allen Ginsberg e adoraram a idéia.
O único problema é que a garota tinha 13 anos de idade, e segundo o fotógrafo, havia “passado um pouco do ponto”, mas sua irmã (de 11 anos!) cairia perfeitamente na concepção maliciosa de Seidemann. A foto clássica foi batizada de “Blind Faith” pelo norte-americano. Clapton adorou e emprestou o nome para batizar sua nova empreitada musical.
A identidade da garota foi mantida em segredo por muitos anos. Alguns fãs garantiam que a moça era sobrinha ou filha do baterista Ginger Baker, mais pela semelhança dos cabelos do que por outra coisa. A verdade é que a jovem chama-se Mareora Goshen e até hoje não gosta de falar a respeito da polêmica capa.
A Atlantic, gravadora do grupo, torceu o nariz quando Clapton apresentou a arte final de Seidemann. O selo estava apostando todas as fichas no projeto, para eles uma espécie de “novo Beatles”. Recusaram a foto de imediato. Clapton bateu o pé e falou algo como “no cover, no record”. Resultado: lançaram 750.000 cópias com a capa original na Inglaterra e depois bolaram uma capa alternativa e mais careta para o mercado norte-americano; trazendo apenas uma ingênua foto do grupo.
No Brasil, a capa original só saiu numa reedição de 1980. Nos anos setenta tivemos uma versão censurada, com a foto do grupo e uma borda preta, ao invés da amarela norte-americana.
Texto de Bento Araújo (www.poeirazine.com.br)
Matéria originalmente publicada na revista poeira Zine.
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