
Crise
A crise financeira em que o planeta mergulhou nos últimos meses tem sua origem na raiz do sistema capitalista e por isso mesmo será duradoura. Dela emerge outras questões fundamentais a serem enfrentadas, como a dívida pública dos países periféricos, a questão do desemprego global e da unidade latino-americana.
As coisas parecem, mas não são. Parece que proprietários de imóveis irresponsáveis em conluio com credores gananciosos nos EUA, provocaram a quebradeira geral que derrubou Bolsas, retraiu as vendas, enxugou o crédito e travou as engrenagens do sistema. Resposta fácil para um problema complexo. Ilusão reduzir as coisas a este patamar de explicações, apesar de largamente utilizado por comentaristas econômicos atônitos diante da falência repentina de suas teses neoliberais.
Nosso planeta é acometido de uma doença que se arrasta há séculos denominada capitalismo, que como sugere o nome, acumular capital é sua sina. A enfermidade global recebe doses medicamentosas regulares que adiam os problemas e, não raro, não fazem mais efeito, provocando surtos permanentes e persistentes de crises. Vivemos um deles que derreteu ativos sem cerimônias e colocou a banca em xeque.
Não bastasse a evaporação de capital foi também para o vinagre o discurso do Estado mínimo e do mercado máximo. Assim que a rolha foi puxada e o capital fictício desceu ralo abaixo, em questão de segundos recorreram ao erário público para solicitar desavergonhadamente por auxílio, no que foram prontamente atendidos. Encurralados, não havia outra saída: é melhor sacrificar o discurso do que o lucro.
O mais engraçado, não fosse trágico, é que dinheiro público arrecadado do conjunto da sociedade, venha servir de bóia de salvação dos negócios privados, dentre os quais o setor da economia que provavelmente mais farreou nas últimas décadas com o ganho fácil: o financeiro. E neste caso o receituário aplicado para conter a crise é absolutamente incapaz de resolver o problema senão até agravá-lo, pois reforça os pilares de uma economia especulativa por natureza e predadora por vocação.
Outro mito abalado foi o da “eficiência capitalista”. O epicentro da crise não partiu de insurreições periféricas, mas sim de desajustes estruturais no coração do sistema, alimentados por décadas de expansionismo financeiro no cassino global.. A jogatina é restrita a determinados jogadores, mas as nefastas conseqüências deste modelo de acumulação de capital explodem com maior violência exatamente nos setores mais fragilizados da sociedade. A “eficiência da gestão” é tão tocante que os gerentes do cassino faliram as empresas que administravam e ainda recebem indenizações milionárias como tem sido mostrado pela imprensa. É o prêmio pela incompetência!
Deste lado do campo não dá para esperar coisa diferente.
O que se coloca para os setores progressistas é uma união de forças em outras frentes para tentar reverter um agravamento da crise social. Apresentar uma plataforma apoiada na proteção do emprego e do salário é uma tarefa mais do que emergente. Temos muitos pensadores e estudiosos do tema que poderiam contribuir neste sentido.
Mas é preciso ir além, como capitalizar o estado brasileiro para fazer frente aos desafios sociais, provocando o estancamento imediato da sangria de riquezas do país através da interrupção do pagamento da dívida externa e interna, acompanhada de uma auditoria.
O que parece coisa de louco para o capital normalmente é saudável para o trabalho.
Não bastasse a evaporação de capital foi também para o vinagre o discurso do Estado mínimo e do mercado máximo. Assim que a rolha foi puxada e o capital fictício desceu ralo abaixo, em questão de segundos recorreram ao erário público para solicitar desavergonhadamente por auxílio, no que foram prontamente atendidos. Encurralados, não havia outra saída: é melhor sacrificar o discurso do que o lucro.
O mais engraçado, não fosse trágico, é que dinheiro público arrecadado do conjunto da sociedade, venha servir de bóia de salvação dos negócios privados, dentre os quais o setor da economia que provavelmente mais farreou nas últimas décadas com o ganho fácil: o financeiro. E neste caso o receituário aplicado para conter a crise é absolutamente incapaz de resolver o problema senão até agravá-lo, pois reforça os pilares de uma economia especulativa por natureza e predadora por vocação.
Outro mito abalado foi o da “eficiência capitalista”. O epicentro da crise não partiu de insurreições periféricas, mas sim de desajustes estruturais no coração do sistema, alimentados por décadas de expansionismo financeiro no cassino global.. A jogatina é restrita a determinados jogadores, mas as nefastas conseqüências deste modelo de acumulação de capital explodem com maior violência exatamente nos setores mais fragilizados da sociedade. A “eficiência da gestão” é tão tocante que os gerentes do cassino faliram as empresas que administravam e ainda recebem indenizações milionárias como tem sido mostrado pela imprensa. É o prêmio pela incompetência!
Deste lado do campo não dá para esperar coisa diferente.
O que se coloca para os setores progressistas é uma união de forças em outras frentes para tentar reverter um agravamento da crise social. Apresentar uma plataforma apoiada na proteção do emprego e do salário é uma tarefa mais do que emergente. Temos muitos pensadores e estudiosos do tema que poderiam contribuir neste sentido.
Mas é preciso ir além, como capitalizar o estado brasileiro para fazer frente aos desafios sociais, provocando o estancamento imediato da sangria de riquezas do país através da interrupção do pagamento da dívida externa e interna, acompanhada de uma auditoria.
O que parece coisa de louco para o capital normalmente é saudável para o trabalho.
É verdade que a esquerda está dividida, que o movimento sindical naufraga em meio ao sindicalismo de poucos resultados, o de nenhum resultado e o que tenta se firmar neste pântano, que os estudantes estão desmobilizados, que os movimentos sociais estão dispersos, enfim, que a conjuntura neste sentido não é favorável, mas é verdade também que o quadro político de crise escancarou as vísceras do sistema, abrindo evidentes possibilidades de mudança nos rumos.A falta de uma plataforma comum de lutas, que aglutine os setores progressistas, deixa espaço para o velho peleguismo que propõe ao trabalhador a redução da jornada e do salário ou do neopeleguismo chapa branca, que tenta blindar o presidente Lula. Mas não há como isentá-lo, assim como o governador de São Paulo José Serra e outros em menor escala, pois ao mesmo tempo em que abriram os cofres ao setor automotivo, por exemplo, sem contrapartidas sociais, ocorreram demissões e redução de jornada e salários. Além disso, estas empresas mantiveram sua fiel política de remessa de lucros para o exterior. Receberam do governo com uma mão e remeteram para suas matrizes lá fora com a outra.
Esta é outra questão que merece muita atenção. O mundo financeiro se alimenta, dentre outros, das transferências de recursos dos países periféricos aos megaespeculadores e países centrais. Para se ter uma idéia do que isto representa em 2007 o Brasil despendeu R$ 180 bilhões. A economia para os pagamentos vem com o famoso superávit primário, que e o arrocho do orçamento em áreas sociais para gastá-lo em repasses freqüentes aos credores.
Vem de longa data a sangria de recursos deste país que é carente deles, mas a curva flexionou para cima exatamente nos governos militares. De acordo com o Jubileu Sul Brasil “durante os 21 anos de ditadura a dívida pública aumentou 42 vezes, pulando de 2,5 bilhões de dólares em 1964 para 105 bilhões de dólares em 1985”.. Ganhou novo fôlego com a crise dos anos 80, quando os EUA elevaram os juros e nosso endividamento em dólar deu novo salto.
E a abertura econômica dos anos 90, denominada por FHC de “inserção nos mercados globais”, representava na verdade nova sangria, apesar da pompa do nome como era de gosto do ex-presidente. Privatizamos e recebemos por isso, aumentamos os juros e gastamos por isso, numa conta de soma negativa. Ainda de acordo com o Jubileu Sul Brasil o endividamento externo saltou de U$ 148 bilhões em 1995 para U$ 210 bilhões ao final de 2002, mesmo tendo pagado U$ 345 bilhões no período. A explosão da dívida interna também não deu vexame e foi de U$ 60 bilhões para U$ 648 bilhões no mesmo período.

Em 2006 gastamos 36,7% do orçamento federal em serviços da dívida, contra 25,7% na Previdência, 4,8% na saúde e 2,2% na educação. Deu para perceber por que os serviços públicos nestas áreas vivem uma crônica falta de recursos para custeio e investimentos? Mas os liberais alegam que a previdência é um buraco, a saúde corrupta e a educação têm muitos professores para poucos alunos e proclamam vivas ao mercado. As vítimas dos Planos de Saúde privados e das mensalidades escolares escorchantes parecem ser mais críticas em relação às maravilhas prometidas.
É mais do que hora de forçar o governo brasileiro a rever seus compromissos com o grande capital e interromper os fluxos que enchem as burras da banca internacional, seguir os exemplos de pequenos países vizinhos, mas engrandecidos por sua coragem em enfrentar o poder financeiro - como o fez recentemente o Equador -, auditar as contas e distinguir os micro investidores dos grandes credores, enfim, reverter à ordem dos pagamentos financeiros para os investimentos sociais.
É mais do que hora de forçar o governo brasileiro a rever seus compromissos com o grande capital e interromper os fluxos que enchem as burras da banca internacional, seguir os exemplos de pequenos países vizinhos, mas engrandecidos por sua coragem em enfrentar o poder financeiro - como o fez recentemente o Equador -, auditar as contas e distinguir os micro investidores dos grandes credores, enfim, reverter à ordem dos pagamentos financeiros para os investimentos sociais.
Deve-se saudar a iniciativa da criação da CPI da Dívida Pública na Câmara Federal, de iniciativa do deputado federal Ivan Valente (Psol/SP), que pode desnudar o rei e expor as mazelas desta inserção subordinada do Brasil aos financistas. É preciso também pressão de baixo para cima para que a CPI ande.
O grande enfrentamento demanda uma plataforma de medidas em defesa do trabalho e na reversão do pagamento das dívidas, na construção de uma sociedade justa e igualitária, menos consumista, geradora da vida e protetora do que resta do meio-ambiente, apoiada em valores como a solidariedade e a cooperação e não o individualismo e a concorrência. É preciso redirecionar a produção em geral para a satisfação das necessidades humanas e não para a garantia da taxa de lucro
Além do mais, o Brasil é um país estratégico no sentido de potencializar as ações das nações parceiras da América Latina. Há um terreno amplo e favorável para aprofundar laços de cooperação econômica, de impo Sião de novas políticas sociais no lugar do assistencialismo, de romper definitivamente com o quadro histórico de dominação, usurpação e espoliação do continente. A economia brasileira surfou num suspiro de crescimento econômico internacional agora interrompido com a crise, mas a grande perda mesmo será não aproveitar a conjuntura política continental e articular uma frente cujo lema bem poderia ser “Outra América Latina é Possível”. A saída é política e não econômica.
O grande enfrentamento demanda uma plataforma de medidas em defesa do trabalho e na reversão do pagamento das dívidas, na construção de uma sociedade justa e igualitária, menos consumista, geradora da vida e protetora do que resta do meio-ambiente, apoiada em valores como a solidariedade e a cooperação e não o individualismo e a concorrência. É preciso redirecionar a produção em geral para a satisfação das necessidades humanas e não para a garantia da taxa de lucro
Além do mais, o Brasil é um país estratégico no sentido de potencializar as ações das nações parceiras da América Latina. Há um terreno amplo e favorável para aprofundar laços de cooperação econômica, de impo Sião de novas políticas sociais no lugar do assistencialismo, de romper definitivamente com o quadro histórico de dominação, usurpação e espoliação do continente. A economia brasileira surfou num suspiro de crescimento econômico internacional agora interrompido com a crise, mas a grande perda mesmo será não aproveitar a conjuntura política continental e articular uma frente cujo lema bem poderia ser “Outra América Latina é Possível”. A saída é política e não econômica.
Ricardo AlvarezGeógrafo, é professor e editor do blog Controvérsia
Link da matéria: http://blog.controversia.com.br/artigos-ricardo-alvarez/
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