STRYKE - Virtual Metal Magazine

RADIO A FERRO E FOGO

domingo, 1 de março de 2009

MEMÓRIA UNDERGROUND


CAPÍTULO XVIII

HEAVY METAL E HEADBANGERS

22 de Setembro de 1984 – Sábado.
Hoje Punk rock ao vivo em Marechal Hermes com todas as bandas hard-core do momento: Ultimato, Desordeiros, Descarga Suburbana, Desgaste Mental ( e são também anunciadas outras bandas de São Paulo e Juiz de Fora). É um show importante porque o subúrbio vai mostrar o seu som e vai-se saber o que se está fazendo do Punk no momento, se for essa a questão. O Coquetel Molotov terminou no início deste mês nos três dias de show em São João de Meriti, quando a maior parte da banda não apareceu.
Noite decisiva, então. De toda forma, não há por que não ir ao over-punk e enfrento o metrô interrogativo, sem que contudo qualquer gesto me ameaçasse. Como a ultrapassagem de um certo limite me garantisse pelo excesso o abrigo do espanto do outro. Depois, com Margot e Coelho no ônibus que ia de ponta a ponta, da Praça Saens Peña ao ponto final em Marechal Hermes. Saltamos com um Heavy que estava no ônibus e que também ia tocar, porque duas bandas heavy-metal estavam sendo esperadas: DORSAL ATLÂNTICA E TESTA DE FERRO.



Quando chegamos o show já havia começado. Apressei-me pelo corredor lateral do estúdio até a sala às escuras onde à porta já os vultos se desenhavam voltados na direção do som. Fui reconhecendo a batida da Desordeiros e entrando pela escuridão até ver o palco. Muitos de pé perto da banda e o vocalista vindo até eles, andando meio curvo para todos os lados. Vi o Fábio na bateria, enquanto ia tentando chegar mais perto e olhava em torno procurando o pessoal. Nélson no baixo, Cármino na Guitarra, esse era o som da banda, o que is usar no movimento.
Perto do palco agora, olho mais ainda tentando ver os punks. Punk nenhum. Fui definindo aos poucos a presença de gente estranha contudo de preto, mas sem ainda compreender. Olho o palco, por segundos só o som me ocupa. Quando parei no meio da pista e pertíssimo da banda, me dei conta (e só aí me dei conta) de que estava cercada d heavys. Cabelos longuíssimos – e agora eu via: os coletes abertos, músculos à mostra, e as correntes, calças pretas e jeans. Eram eles. E era o negro. E não eram os punks. E não era tão surpreendente, porque duas bandas heavys estavam anunciadas. Mas naquele momento, no palco era uma banda punk. Em todo caso, posicionei-me mais para o canto, pois já os conhecia de outros encontros em que a distância e hostilidade separavam nitidamente heavys e punks. Mas não são só eles pareciam estar gostando da banda, como pareciam ser os únicos a gostar, eles eram a platéia daquela banda punk. E onde estava o pessoal do Movimento? Aproximan-se Caverna e Roger, depois Alcatéia, vindo de um canto onde estão vi o Rossi. Uns Punks estavam na lateral do palco, discretos e controlando a aparelhagem.

Quando a banda encerrou sua apresentação, aparece o Claúdio e eu lhe pergunto pelos outros. Estão “lá atrás”. Nesse momento e durante a apresentação da Descarga, conto meticulosamente os punks, na sala que aprendi a conhecer na escuridão: são 12. E quantos heavys? Cem, provavelmente. Então não havia mais a platéia PUNK, não ali.
Isso muda tudo, porque a banda conta com a adesão prévia de sua platéia e sabe que o que ela canta e fala repercute positivamente na platéia que a acompanha e para quem ela faz o som. E quem dançava e gritava naquele momento era uma platéia Heavy. Dançavam e erguiam a mão fechada com o mínimo e o indicador como chifres, gritando “devil” e “satã”.


Eram doze punks sem visual, salvo os caras das bandas (não incluídos nessa contagem, sendo que não havia nem Desgaste nem Ultimato por lá). E, dispersos, eles não estavam em grupo. Só os heavys pareciam significativos. Quando Roger falou contra o sistema, foram eles que ouviram e se manifestaram. Eram eles também que dançavam o som dessas bandas. Só os surpreenderam um momento as músicas curtíssimas da Patrulha 666 de JF, que era uma banda Punk convidada. De resto, tudo parecia se harmonizar. Quando saí um pouco do estúdio, pude ouvir de onde estava e reconhecer o som do Cólera de SP. ERA A DORSAL ATLÂNTICA QUE TOCAVA.


ESSE TEXTO FOI RETIRADA DO LIVRO MOVIMENTO PUNK NA CIDADE - A INVSÃO DOS BANDOS SUB. ESCRITO POR JANICE CAIAFA E EDITADO PELA JORGE ZAHAR EDITOR. CONSEGUI O E.MAIL DA AUTORA E ESTOU TENTANDO FAZER UMA ENTREVISTA.

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