A xenofobia era ensinada entre os espartanos como um de seus conteúdos para a formação militar. O Espartano de origem dórica era estimulado a odiar os Hilotas (aqueus) considerados inferiores. Hitler no Século XX readaptou essa idéia ao estimular o anti-semitismo. Chegamos ao Século XXI e o fenômeno da xenofobia está de volta. Ou ele nem sequer foi superado? Normalmente só se discute sobre isso quando um perigo emergente já se torna tão perceptível que a situação possa vir a piorar. Até então, costuma-se acreditar que esse problema seja coisa passada e que a discriminação nos últimos anos tenha diminuído. Mas a realidade, que novamente confirma o caráter contraditório da existência humana, demonstra que a história não necessariamente ruma numa direção positiva, como se quer acreditar, mas que avanços contrastam com recuos. Idéias que se tinha como fora de moda, absurdas e retrógradas, podem novamente vir a ser atuais e modernas. Isso significa que as idéais não morrem pelo simples decurso do tempo e que, em conformidade com o espírito de uma época, podem retornar.
Na Europa, muitas pessoas estão chocadas com o avanço do neofascismo. A maioria não queria acreditar que partidos de extrema direita pudessem ter sucesso nos “democráticos” países industrializados europeus. Na Alemanha, onde especialmente o anti-semitismo marcou a história, impera o silêncio diante do avanço da extrema-direita nos países vizinhos. O NPD (Partido Democrático Nacional da Alemanha) que, segundo o atual governo, deveria ser proibido, comemora o sucesso da extrema-direita na Europa, especialmente na França e na Holanda. Apesar dos partidos de extrema-direita na Alemanha estarem fragmentados e até agora não terem conseguido o mínimo de 5% de votos necessários para ocupar uma vaga no Congresso, eles vislumbram, agora, boas perspectivas para a frente. A organização da extrema-direita também cresceu com a utilização da Internet. Mais de 800 sites na Internet oferecem textos, músicas e informações sobre demonstrações neonazistas, o que o governo não pode proibir, pois muito do que é oferecido provém do exterior. É notável, também, que o fenômeno do neonazismo tem aumentado nas escolas.
Aproximadamente 10% da população alemã é composta por estrangeiros, dos quais 28% são turcos, os mais atingidos pela discriminação. A discriminação é especialmente visível em demonstrações da extrema-direita e músicas, sendo que estas últimas já criaram um novo mercado: o mercado do rock de direita. Felizmente, ocorrem, paralelo a muitas demonstrações nazistas – que já há bastante tempo vêm acontecendo, com ódio a imigrantes e resistência contra o governo alemão –, manifestações contrárias de combate a um possível crescimento da xenofobia. Mas, também, entre o leste e o oeste da Alemanha, o “muro na cabeça” dos alemães ainda não caiu. Os salários mais baixos e o maior desemprego no leste demonstram que, após 12 anos, a unificação alemã ainda não foi alcançada. A divisa continua sendo publicamente reforçada através das constantes comparações e da rotulagem do leste como “os novos Estados” o que, de fato, confirma a existência de uma Alemanha no leste e outra no oeste.
Evidentemente, o avanço da extrema-direita não ocorre por acaso. A crise da economia e do Estado de bem-estar social, associada às rápidas transformações tecnológicas, ocasionou um crescente desemprego e colocou a competitividade a qualquer custo como única alternativa de sobrevivência. Esta conjuntura gera insegurança, ressentimento e violência. Com o gradativo desmonte do Estado de bem-estar social por parte dos governos social-democratas, os quais até agora se apresentaram como alternativa contra os partidos de direita, a população ficou desorientada, especialmente os desempregados, trabalhadores e jovens. Se, nestas circunstâncias, as alianças de “centro-esquerda” ainda estão sem perspectiva e não oferecem uma clara linha e alternativas políticas, abre-se o espaço aos velhos charlatões políticos. A extrema direita procura enfocar os problemas dos países que afetam diretamente a maioria da população e propõe soluções simples e discriminadoras, mas que exercem um forte poder de atração. É, por exemplo, mais fácil responsabilizar os estrangeiros pelo desemprego, pela criminalidade e pela insegurança, do que entender as complexas razões dos problemas. As soluções apresentadas são, então, também bem simples e conduzem à xenofobia, quando os estrangeiros são tratados como concorrência indesejada.
Mas, a xenofobia expõe os países europeus a uma séria contradição econômica. Por causa do baixo índice de natalidade e da crescente expectativa de vida da população, existe a tendência de que a Europa venha a ser a sociedade mais idosa do mundo. Nesta perspectiva, conforme um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em 2000, 1,5 milhão de estrangeiros teriam de imigrar para a Europa por ano, somente para sustentar o atual número de pessoas em idade de trabalho até 2050. Para manter constante a proporção entre trabalhadores e pensionistas, seriam necessários 13,5 milhões de imigrantes por ano.
As evidências demonstram o absurdo e a contradição da xenofobia na Europa, quando a extrema-direita, com seu discurso nacionalista, se coloca contra os próprios interesses de seus países. Pode ser também que, em função da sua superficilidade, a ideologia do racismo seja tão difícil de ser combatida. Quando os interesses particulares das pessoas são manipulados de tal forma, que o passado não tenha mais sentido e que as perspectivas racionais de futuro sejam concebidas como inalcansáveis, operam idéias que nem sequer mais eram levadas a sério.
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